Eu não posso esquecer
o mundo a música invariável do teu carro
o planetário das nossas respirações
tuas mãos tímidas
no vidro embaciado
ou os olhos que tocam os meus olhos
que tocam os nervos do teu cabelo
que tocam os teus lábios quentes
Não quero esquecer
as tuas mãos cubos de gelo
nas minhas costas –
sítios escuros
onde desenhavas os projetos
de um amor só;
Como descobrimos
que os condutores dos elétricos de Lisboa
são incomodados
pelos turistas frenéticos
por empurrões
por traduções falsas
como vimos
uma luta num jardim
o sol enquadrando
uma fotografia tua
e os teus pensamentos
soltos:
– eu gosto do teu estilo -,
mas eu não quis acreditar,
como é que se acredita
no amor.
Eu não posso esquecer
que nem todas as palavras
eram ditas que todos os segundos
eram meus eram nossos
Não posso esquecer a vida
Os teus beijos são os elétricos de Lisboa
O teu amor ainda é saliva no meu corpo
Os teus dedos ainda estão encaixados
nas minhas mãos