Os títulos de todos os jornais reclamam o teu nome, os rodapés dos televisores anunciam o messias aclamado, em todas as ruas e em todos os morais se vem letras e frases revolucionárias, o amor já não é uma doença mas tu retornaste para contagiar todos os sãos desta cidade. Todos gritam, todos te chamam e tu contagiado e contagiando corres e alcanças a multidão. Há assaltos, alguns sentem-se mal e outros desmaiam com o impacto da colisão sentimental que vais causando. Pensando(quase sentindo) em fugir e correr, abandonas os admiradores febris. O passeio serve de encosto quase cama e deixas escorregar a cara sobre o poste meio inclinado de iluminação que te ofusca a visão e te perturba lenta e irritantemente as entranhas. Quase ociosamente desvanece essa visão dormente do acontecimento vibrante e o jovem que és abandona o sónico bater do teu orgão vital, começa a bater comodamente e andas devagar esperando um carro vermelho, um golf de 95, aquela edição dos pink floyd. Quem conduzia era uma miúda velha, também agora ofegante. Pediu lume e ligou o rádio. Tocava o António Variações e era 2005. Pediste para parar o carro e acabaram a conversa silenciosa, foste o resto do caminho a pé por caminhos silvestres e esse orgão manhoso voltou a responder de maneira atroz, agora sedento por adrenalina, puramente jovem, capaz, à procura de aventura.