Tortura débil e dormente
Olha que a velocidade é forma e jeito
Mas é dor insuportável
Os dedos que te tocam são
Molhados encaixados nos teus nãos
Súbitos bafos decerto frescos
De noites trincadas à pressa
Vêm a ti só a ti só a nós
Os gestos congelam os próximos gestos
Estávamos para contar outros suspiros
Mas já não consegues mover
Mais versos mais distâncias entre nós
Que forces a palavra, meu amor
Que deites o teu sono no meu colo
Olha que é frágil o tempo
E os teus sinais receosos
São horas sem luzes
Em trânsitos deitados
Pela saliva
Que forces a palavra
E que te deites levado
Pelo rumor de toques suaves
Olha olha a tua voz é tão doce
E a janela é curvada não geométrica
E os teu olhos são
O café queimou a pele
Há que contar com a dor fugaz
Do café ou de teres saltado pela varanda
Há vinte juízes a olharem os nossos beijos mortos
Que fizemos
Com as palavras
Condenam-nos as velocidades
E os silêncios
Das varandas não salta mais nada
Nem pássaro nem nós
O nó de nós
Olha olha
queimou-se pele e papel e alguns gatos morreram
ao saltar
e o teu corpo ficou em saliva fundente
olha
vieram para julgar as palavras
e tiraram-nos os silêncios.