A Rua abandonada, o hospital velhinho, a amiga estúpida e o cão morto, o livro atirado pela janela até ao outro lado da estrada. O dia rápido, o avô da amiga num caixão, o gato pingado e os outros seis gatos da escola primária, a noite lenta, o amigo envergonhado, o gelado que cai na rua abandonada. O baile, o vestido e a lágrima. O doce de laranja que sai do forno da avó, o cheiro a livro velho, a aletria, o doce de morango, o vento frio na cara quente, corre que corre, dois dias lentos, teste de matemática, fração, equação, calipo de limão, três poemas e todos em vão. Blimunda sabe, nós não. Três amigas e nenhum coração, três dias em vão. Cresce que cresce, rua abandonada, despe-te. Medalha emoldurada e porta encravada, unha roída, roída de nada. Sartre na mesa, Marx no chão. Rádio ligado, liga o morgado, fala do homem, cara embrulhada, disse o que queria, nada de nada. Despe-te rua, rua abandonada.